89 - Julgamento - Primeira Audiência - 5ª Testemunha
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Vítor Carvalho – Bom, seja ou não seja reconhecido nas imagens eu reconheço-o, e não tenho a menor dúvida que quem está a praticar aqueles atos é o arguido, e já tem havido outras, outras, outros factos …
Juiz - … faça favor doutor, não vamos agora estar aqui a relatar os conflitos que tem aqui com …
Advogado do Arguido - … com todo o respeito, quando alguém vem dizer, já temos aqui, já vimos aqui …
Juiz - … já vimos que há divergências entre os dois …
Advogado do Arguido - … V. Exa. vai-me desculpar, mas quando uma pessoa refere exatamente, não apresentou antes nenhuma queixa, porque é uma pessoa muito conflituosa, ao menos gostávamos de tentar saber, não para condenar o arguido, mas saber ao menos em que é que se funda esse conflito. Porque eu posso dizer aqui a este tribunal que conheço o arguido há muito mais tempo do que o senhor engenheiro, e sei que, em termos por exemplo penais, não existe conflito nenhum. Sei que, em termos sociais, de relevante, não existe conflito nenhum e, portanto, gostava de saber. Porque se não é assim, se não estamos aqui a falar de convicções baseadas em suposições, etc., etc. E, portanto, volto a dizer ao senhor engenheiro se se importava de concretizar em que é que se funda essa sua opinião de que o arguido é conflituoso.
Vítor Carvalho – Não trouxe agora uma lista, mas antes destes acontecimentos aconteceram outras coisas, nomeadamente, são coisas que eu, enfim, são até ridículas mas é o que é. Nós pomos normalmente o caixote de lixo para ser recolhido à sexta, ou melhor, punha, agora já não ponho porque o caixote de lixo aparecia todo sujo com detritos, digamos assim, de animais na, uma vez, uma vez, eu ouvi barulho e vi quem é que estava a fazer esse trabalho. Claro que o caixote de lixo não é recolhido por mim, o caixote de lixo é depois despejado pelos serviços e é recolhido pela minha empregada, que tem que subir aquela rampa toda até cá cima, depois chega ali e tem que pôr as mãos na porcaria que puseram no caixote, e começar mal o dia de trabalho dela. De maneira que eu para evitar esse tipo de problemas, eu resolvi deixar de pôr o caixote. Faço e despejo o lixo nos sítios mais longe de casa. Trato eu desse assunto deixando de lá pôr o meu caixote de lixo. Duas vezes …
Juiz - … ó senhor doutor, não vamos estar aqui agora …
Advogado do Arguido - … sobretudo à oportunidade de explicar …
Juiz - … dê lá a oportunidade …
Advogado do Arguido - … a quem é que o senhor apresentou queixa na participação ao SMAS? Além da carta!
Vítor Carvalho – A ninguém!
Advogado do Arguido – A ninguém! Eu há pouco não percebi, nesta estória das gravações, compreendo que o senhor terá visto o arguido, portanto sabemos que terá sido ainda em setembro, foi antes das imagens de vídeo, que supostamente são de 1 de outubro, em que terá começado a gravar. Portanto, o vídeo, não percebi porque é que deixou de gravar!
Vítor Carvalho – Porque é que deixei de gravar?
Advogado do Arguido – Portanto, durante outubro, estamos a falar em 1 de outubro como o ideal, outubro inteiro, 23 dias pelo menos que nos interessa para aqui …
Vítor Carvalho - … considero isso a prova …
Advogado do Arguido - … a prova principal era isso?
Vítor Carvalho – Sim!
Juiz - … nas alegações fará o argumentário dessas …
Advogado do Arguido - … não, não, eu não estou a comentar, eu quero saber é a situação real. É portanto em 1 de outubro que deixou de gravar?
Vítor Carvalho – Sim, deixei de gravar.
Juiz – Por essa altura?
Advogado do Arguido – Sim!
Juiz – Pronto, faça as perguntas que quiser mas …
Advogado do Arguido - … isto não são alegações. O senhor engenheiro responderá se fizer sentido ou não.
Juiz – Não estamos aqui a avaliar a …
Advogado do Arguido - … agora, diga-me outra coisa, o senhor, portanto, antes de 1 de outubro, o senhor terá visto com os seus próprios olhos, o arguido a retirar a mangueira. A sua esposa não se lembra, mas em declarações, um ou dois agentes da PSP da Polícia Municipal, fazem referência que em 2 de outubro, portanto no dia seguinte ao do vídeo, que a sua esposa terá apresentado queixa, denúncia, contra “desconhecidos ou incertos”. Nesta data o senhor engenheiro não tinha dito ainda à sua esposa que tinha visto o arguido a fazer isto?
Vítor Carvalho – Não posso confirmar essas datas, não me lembro, e posso dizer-lhe que nós tentámos levar isso até às últimas consequências, argumentar que esses episódios dessas coisas melhoraram um pouco, contudo …
Advogado do Arguido - … o senhor quando viu o arguido a retirar a mangueira, o senhor comentou com a sua esposa, ou não?
Vítor Carvalho – Sim!
Advogado do Arguido – Diga-me outra coisa. Como é que o senhor qualifica, caracteriza, a relação que tem com o arguido? Boa, má, péssima, assim assim, …
Vítor Carvalho - … não tenho relação nenhuma, porque como vizinho considero-o um mau vizinho. Provavelmente ele pensa o mesmo de mim.
Advogado do Arguido – Alguma vez apresentou alguma queixa contra ele?
(Ministério Público em voz baixa – Já disse que não!)
Vítor Carvalho – Não!
Advogado do Arguido - Nem na PSP?
Vítor Carvalho – Não! Na PSP, enfim, fiz declarações que …
Advogado do Arguido - … não, não, eu não estou a falar deste processo.
Vítor Carvalho – Não!
Advogado do Arguido – Estou a falar de queixas contra ruídos de cães?
Vítor Carvalho – Ah, isso apresentei, quanto a ruído de cães sim, claro. Mas assumo que não apresentei contra ele, apresentei contra o ruído, e a PSP fazia alguma coisa relativamente a isso.
Advogado do Arguido – Mas a polícia deslocava-se algures ali pelo bairro, ou ia bater à porta dele?
Vítor Carvalho – À porta de onde vinha o ruído.
Advogado do Arguido – Mas alguém lhe dizia isso.
Vítor Carvalho – Asseguro-lhe que era apenas isso.
Advogado do Arguido – É só isso!
Juiz – Boa tarde, pode ir à sua vida!