108 - Julgamento - 2ª Audição - Testemunha 7
108
Ministério Público – Não! Então diga-me uma coisa, ela tem inimigos na vizinhança, ou conhece alguém que ela tenha problemas de vizinhança, que algum vizinho possa ter feito tal maldade?
Ana Miranda – Não sei senhora doutora, eu não tenho intimidade com eles para isso!
Ministério Público – Mas já foi aqui referido que ela tinha problemas de vizinhança, inclusivamente com o arguido. Ou não reconhece isso?
Ana Miranda – Problemas de vizinhança?
Ministério Público – Sim!
Ana Miranda – O que é que a senhora doutora quer dizer com isso, desculpe?
Ministério Público – Não sei, isso é o que a senhora pode-me explicar!
Juiz – Não percebe!
Ana Miranda – Não, não eram problemas de vizinhança …
Juiz - …reformule a pergunta de outra maneira …
Ministério Público - … olhe, olhe, a …
Juiz - … a senhora dava-se mal com ela?
Ana Miranda – Não! Não me dava com ela.
Juiz – Problemas de vizinhança é quando as pessoas não se dão bem!
Ana Miranda – Eu não me dava com ela!
Juiz – Se não se dão bem, não são problemas, é um bom viver!
Ana Miranda – Sim, está bem!
Juiz – Está a ver, a senhora sabe …
Ana Miranda - … eu não me dava senhor doutor, não falava …
Juiz - … não se dava com ela, só apertava a mão ao marido de vez enquanto, quando ele falava com o seu!
Ana Miranda – Sim, quando ele falava com o meu marido claro, sim!
Juiz – Olhe, eu só quero fazer uma pergunta …
Ana Miranda - … diga, diga …
Juiz - … que eu pareço que é a única. A senhora foi dizendo que havia lá lagos, que se apercebeu dos lagos, e que os cães até andavam lá a rebolar, e a senhora nem imaginava que aquilo fosse esgoto.
Ana Miranda – Não, eu percebi nessa altura.
Juiz – Depois percebeu com o cheiro?
Ana Miranda – Sim!
Juiz – Quem é que trata dos esgotos aqui no município? Quem é que trata dos esgotos? Quando há problemas nos esgotos, quem é que trata dos esgotos?
Ana Miranda – São os SMAS, não é?
Juiz – Então, nem sabia de quem eram aquelas carrinhas!
Ana Miranda – Não, mas isso nem …
Juiz - ... não era o vizinho do lado que mandava vir as carrinhas. Se tiver problemas nos esgotos na rua, ou uma rotura de água, quem é que se chama? Se a senhora tivesse lá uma inundação, na rua …
Ana Miranda - … sim …
Juiz - … que lhe enche o quintal de água …
Ana Miranda - … sim, sim, claro …
Juíza - … então a sua afirmação é tão descontraída, está tão longe de tudo, que responde “eu nem sabia o que era, vi lá umas carrinhas”. Acha que essa resposta …
Ana Miranda - … foram vários dias …
Juiz - … mas acha que isso é uma resposta normal? Depois da senhora saber que cheirava mal que se fartava, isto não interessa, sabe que isto não interessa rigorosamente nada para o que estamos aqui a discutir. É só que às vezes as pessoas vão para o tribunal fazer depoimentos porque acham que devem fazer assim uma coisa descontraída, longínqua, sem que nada. A senhora sabia, e muito bem, quando cheirava mal, que era esgoto, não é? Se cheirava mal daquela maneira, ao ponto de vir a cheirar muito mal, então o cão coitado devia de ficar lá com o cheiro quando entrava em casa, não é? Imagine um cão a entrar dentro de casa depois de ter rebolado num esgoto, e depois, não era água, era esgoto, se não era esgoto …
Advogado da Assistente - … era vinho …
Advogado da Assistente - … era vinho …
Juiz - … se era esgoto vinha de algum lado, da casa de alguém …
Ana Miranda - … sim …
Juiz - … então pronto, se estava lá a carrinha, obviamente …
Ana Miranda - … sim, sim …
Juiz - … é que isto não importa muito, sabe? Ó senhora doutora, quer mais alguma coisa?
Ministério Público – Pronto, era só para …
Juiz - … mas a senhora não tinha reparado que era o SMAS …
Ministério Público - … é a forma como a senhora …
Juiz - … não achou que a carrinha era do SMAS. Quer mais alguma coisa?
Ministério Público – Desvalorizava a situação, era só mesmo para me lembrar disso …
Juiz - … ó senhora doutora quer mais alguma coisa?
Ministério Público – Mais nada!
Juiz – Minha senhora, muito boa tarde pela sua colaboração, pode ir à sua vida!