100 - Julgamento - 2ª Audiência - Testemunha 7
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Advogado do Arguido – Lembra-se neste período, o tal setembro, outubro e novembro de 2012, se se recorda de alguma vez a praceta ter ficado suja com o esgoto por a mangueira ter saído da caixa de visita?
Ana Miranda – Eu lembro-me de poças no chão, e eu digo poças no chão, porque ao princípio nós pensávamos que era água, água das regas, pronto que eles têm aquelas regas automáticas, e sai para fora do jardim, e nós víamos, nós chegámos à conclusão que cheirava, que realmente havia um cheiro no ar, e de cada vez que soltávamos as cadelas, as cadelas iam esfregar-se no chão, e portanto vinham a cheirar muito mal. E pronto, percebemos que aquilo não era, que não era, portanto, não era água. Uma das vezes, foi inclusive numa sexta feira, eu lembro-me de ver, foi a única vez aliás, estava a mangueira, portanto, aquela mangueira que vem do esgoto, que eu depois vim a saber que era esgoto, que eu de início não sabia que aquilo era esgoto, a deitar, e um dos jardineiros, estava a deitar no passeio, e um dos jardineiros deu-lhe assim um pontapé, e meteu-a a correr para a sargeta. À parte disso não me recordo de mais nenhuma vez ver a mangueira a correr.
Advogado do Arguido – E essas poças na praceta, neste período, isso foi uma vez, foram mais vezes?
Ana Miranda – Bem, foram mais vezes, nós depois já estávamos alertados para o facto, ao princípio não, eu ao princípio, como digo, eu pensava que era água. Pensávamos que era água, depois viemos a verificar que não era. Agora exatamente como é que elas surgiram, não sei, não sei, não estou sempre a ver o que se passa …
Advogado do Arguido - … e cheirava?
Ana Miranda – Cheirava, cheiravam, as poças cheiravam!
Advogado do Arguido – E depois quem é que vinha corrigir essa situação?
Ana Miranda – É assim, nós assistimos a muitas idas de, ao princípio não me apercebi que aquilo era sequer do SMAS. De início apareceram carrinhas com pás, com picaretas, com escadas, com artefactos, eu nem sequer me apercebi do que é que era, não sabia sequer que aquilo era um esgoto, pronto era uma mangueira. Não nos apercebemos. Depois começaram a aparecer carrinhas maiores, de tal maneira que o próprio largo ficava impedido. Os meus vizinhos, portanto, nós temos um consulado mesmo ao nosso lado, eles metiam as camionetas à frente e não se entrava pura e simplesmente porque eram camionetas enormes, camionetas enormes que praticamente ocupavam o largo todo. Muitos carros particulares, não sei de quem eram, e viam-se muitas pessoas. Viam-se muitas pessoas, mas eu nunca fui lá perguntar quem elas eram, e também nunca fomos informados, aliás porque nunca houve qualquer tipo de sinalização. Nunca ninguém nos informou, não estava nenhum cartaz, ninguém falou connosco, não havia nenhuma sinalização a dizer que aquilo era do SMAS, apenas as carrinhas, não só do SMAS, mas também de outras empresas, não foi só o SMAS que foi lá, iam outras empresas. Não sei precisar os nomes!
Advogado do Arguido – Há quanto tempo, mais ou menos, é que são vizinhos deste tal casal Vítor e Sílvia Carvalho?
Ana Miranda – Quinze anos!
Advogado do Arguido – Quinze anos!
Ana Miranda – Quinze anos para aí, por volta disso.
Advogado do Arguido – E como é que era a vossa relação de vizinhança com eles, antes deste período de setembro, outubro e novembro de 2012?
Ana Miranda – Com a dona Sílvia, eu vi a dona Sílvia em todo este período umas 3 ou 4 vezes. A dona Sílvia praticamente, não sei, eu não a vejo, não sei se sai de casa ou se não sai de casa, não a vejo. O marido, ele tinha aquele cumprimento “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, se o via, se ele aparecia. Com o meu marido era um pouco diferente, porque ele procurava muito o meu marido, para falar com ele de problemas, e de problemas que aconteciam aqui, porque não gostava de pessoas que estavam no largo. Falava mais com o meu marido, não tanto comigo. Para ser sincera, eu tentava fugir sempre à situação, apertava-lhe a mão, mais nada. A ela praticamente não a via, mas se também a visse era com certeza o mesmo, “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, mais nada.