113 - Julgamento - Testemunha 8
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Advogado da Assistente – Explique-me só uma coisa, é que eu estou com alguma dificuldade. Vou-lhe explicar, há momentos na vida em que dou graças a Deus em ser advogado e não ser juiz, porque não tenho de decidir. Só fazer perguntas e depois, graças a Deus, outra pessoa decidirá. Mas repare uma coisa, pelos vistos houve uma quantidade enorme de intervenções na rede de saneamento de resíduos. Pelos vistos cheirava mal que se fartava, a expressão “fartava” é minha, na praceta, os cães quando iam para lá, quando chegavam a casa tresandavam, o que me leva a entender que a água que estava ali também tresandava, era uma praceta cheia de excrementos, para não utilizar outra palavra.
Maria Bigodes – Eu não vi, os meus cães não saem do meu quintal.
Advogado da Assistente – A senhora não viu porque não estava na praceta, ou não frequenta a praceta, ou …
Maria Bigodes - … não frequenta …
Advogado da Assistente - … ou não estava lá …
Maria Bigodes - … exactamente, é natural, se foi durante o dia eu nunca dei conta. Saía de casa por volta das 9H00, chegava às 16H30, 17H00, 17H30.
Advogado da Assistente – É que há uma coisa curiosa na praceta, é que na praceta ninguém repara na quantidade gigante de resíduos domésticos, leia-se “excrementos” também, mas todos reparam no jardineiro.
Maria Bigodes – Então, os jardineiros estão lá …
Advogado da Assistente - … faz-me lembrar naquela hora da Coca-Cola Light das 16H30, toda a gente repara no jardineiro …
Juiz - … tem um efeito bloqueador, senhor doutor!
Ministério Público – (Ri-se)
Juiz – O jardineiro tem um efeito bloqueador, senhor doutor! Senhor doutor, a senhora não viu nada, não sabe nada, o senhor doutor quer inquirir mais a senhora? Só sabe que dava lá a volta com o carro …
Advogado da Assistente - … relativamente ao tubo, ou o que foi feito ao tubo, não sabe nada …
Juiz - … não viu nada senhor doutor …
Advogado da Assistente - … senhor doutor, para não o maçar mais, não tenho …
Juiz - … a mim não me maça senhor doutor, é que estão pessoas à espera por coisa nenhuma. Minha senhora, muito boa tarde, muito obrigado pela sua colaboração ao tribunal, pode ir à sua vida.
Maria Bigodes – Obrigada!
Juiz – Eu propunha o dia 25 às 14H00 para alegar. É que eu já tenho uma agenda …
Advogado da Assistente - … 25?
Juiz – 25 às 14H00!
Advogado da Assistente – Dê-me só 1 minuto!
Juiz – Já não tenho mais sítio. Se calhar vou começar a marcar ao sábado.
Advogado da Assistente – 25 de Julho não é às?
Juiz – Às 14H00! Tenho já mais alegações nesse dia, mas como são alegações …
Advogado da Assistente - … deixe-me só ver porque, tem de ser a minha colega …
Juiz - … como são alegações. Mas use o tempo todo que permite a lei. Espero que não, não é. Ah, faça favor de se levantar senhor …
Advogado do Arguido - … às 16H00 tenho …
Juiz - … tem uma leitura …
Advogado do Arguido - … não, não, tenho uma consulta médica …
Juiz - … ó senhor doutor, são só alegações …
Advogado do Arguido - … em princípio …
Juiz - … o senhor doutor já fez as suas alegações, ou está a pensar nelas?
Advogado do Arguido – Não, não, já estão feitas!
Juiz – Pronto, acho que as alegações, enfim …
Advogado da Assistente - … são sempre …
Juiz - … já tive alegações de 1 hora e poucos …
Advogado da Assistente - … não, não …
Juiz - … já tive de 3 horas. Fiz um julgamento noutro dia que tive 3 dias a ouvir alegações. Demorou hora e meia mas nunca prevejo. Mas espero que sejam breves. Mas senhor doutor, eu tenho aqui mais alegações, depois tenho umas segundas datas, depois tenho mais um abreviado a fazer, tenho mais umas leituras para fazer, mas as alegações fazem-se em primeiro lugar.
Advogado da Assistente – Ó senhor doutor, dia 25 às?
Juiz – 14H00!